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28 de março de 2021 | 

Serafina Corrêa

ECONOMIA II

Por: Solange Maria Soccol


SOCIEDADE ESTRELLA

A Sociedade Estrella, segundo entrevistas feitas em diversas casas, com pessoas que são filhos ou netos dos então sócios, era uma espécie de Banco, onde todos depositavam para assim construir e produzir: Frotas de caminhões câmara fria que transportavam para o Frigorífico Ideal, caminhões mais simples que buscavam a uva e, depois transportavam o vinho da Cantina Brilhante e os animais da Granja de suínos. O moinho que produzia para a cidade e arredores e ainda possuía uma filial em Montauri, hoje cidade.
O nome da Sociedade ecoa até hoje e seus sons assumiram formas decisivas para a produção de diversas sinfonias. A interpretação foi e permanece, às vezes afinada e outras não, mas na memória de todos nós canta hinos de evolução à escultura de grandes dimensões que inseriu o mundo empresarial tanto valorizado hoje na nossa cidade. Os pioneiros começavam a construir e nossa cidade já era conhecida por suas atividades empresariais que, subjetivamente, já davam suporte à manutenção de nossas tradições.

 

CANTINA BRILHANTE

Emocionante a viagem de retorno ao passado quase próximo que nos permite sermos conhecedores de que, em nossa cidade, ‘ o vinho tinto era o de melhor qualidade da região’ ( Rui Brusamarello, que trabalhou em apenas uma das safras na Cantina Brilhante).
Quem encarna as próprias raízes, raciocina e reflete com o compromisso de não negar os valores de sua memória e tradição: ‘Sempre nos empenhamos seriamente e com devoção porque a história promove interpretações espontâneas em todos os acontecimentos’.
A Cantina Brilhante transportava seus produtos nos próprios caminhões, de acordo com depoimento do Sr. Sadi Antônio Migliavacca (in memorian), um dos empregados da mesma.
No início eram apenas carroças que chegavam, enfileiradas, e as uvas produzidas na cidade de Serafina Corrêa que eram colocadas em um imenso funil e esmagadas com os braços, ao mesmo tempo em que uma máquina de manivela empurrava as mesmas. Muito depois, modernizada, colocavam em tanques e uma máquina moía enquanto uma bomba puxava a uva que ia para a tina, onde deixavam ferver por 48h. Os bagaços para a graspa, para retirá-los da tina, era necessário que um empregado entrasse pelo buraco, em cima, e os tirasse com as mãos ou mesmo com uma pá. Che sbòrnie… Alguns empregados saíam da tina completamente tontos.
O Vinho Brilhante, somente tinto, era rotulado e engarrafado pela própria cooperativa, após todo o caminho percorrido: fileiras imensas de carroças e caminhões carregados que chegavam sem parar, a uva pesada em uma balança tipo de moinho, de até 500kg. Uma visão de quase cem anos passados, do mundo do vinho em nosso município.
A higiene era fundamental, por incrível que possa parecer aos mais jovens, as garrafas ficavam de molho em tanques maiores, e lavadas uma a uma, sendo após enxaguadas em outro tanque menor. As ‘botes’ eram lavadas com jatos de água ligados na eletricidade.
A graspa da Cantina era feita dentro de um imenso tonel de cobre para a destilação, passando por uma serpentina que rendia de 100 litros de bagaço, apenas 10 litros de suco, sendo esses novamente passados pela serpentina para a obtenção da graspa. Empregados ao todo, na época de safra, 4 a 5.
Novidade saber que vendiam também Cachaça Brilhante, mas essa não era produzida aqui: chegava em caminhões-tanque de Muçum e São Paulo, descarregadas em uma pipa onde depois engarrafavam e, novidade também, em pequenos barris de 100 litros que eram vendidos para as capelas. Consta como a maior consumidora/vendedora de cachaça, a Capela Santo Antônio de Vila Oeste (atual União da Serra).
Então a memória aqui relembrada é um instrumento ideal para aprofundar reflexões: nossos antepassados, com a sua criatividade e força de vontade, fizeram o vinho (Viva Noé!) nos provando que além da possibilidade de apanhar uma pequena nuvem de um céu tempestuoso em tempos tão difíceis, e colocá-la honradamente na história de uma cidade que é protagonista de muitos desafios, com sua coragem, nos deixaram um episódio inédito sobre o vinho da Serra Gaúcha.

 

COOPERATIVA VITIVINÍCOLA GUAPORENSE

Representação acentuada do empreendedorismo dos pioneiros e seus filhos na atividade associativa, de 15/12/1932 e por mais de 30 anos, Serafina Corrêa contou com a conhecida Cooperativa Vitivinícola Guaporense , produtora do clássico patrimônio enológico Serafinense.
Com seu químico Ricardo Rotta e a característica de peculiar apreciação, os vinhos e a graspa eram simplesmente consumidos por pessoas de fino paladar.
Andando e conversando com pessoas, surgiu a curiosidade antes desconhecida e descobrimos que por tradição e herança, os nossos oriundi e filhos, permaneceram ligados ao ritmo das estações e da terra de origem, que dizia que a colheita deveria ser feita em lua ‘ minguante’ para evitar o mofo.
O incentivo para a produção dos vinhos e da graspa (feita do bagaço da uva, ou seja, dos cachos de uva já espremida para o vinho, e então deixados para destilar) era beneficiar e valorizar a produção agrícola, obtendo assim um bom retorno financeiro para os produtores.
Os termos de valores, tradições e herança moral sempre se fizeram presentes até o momento em que, por dificuldade de escoamento e pela concorrência da região, a Cooperativa deixou de produzir, deixando a nós, os guardiões da memória, um patrimônio cultural em forma de história e fotografias, além da lembrança dos que ainda hoje recordam como era uma feliz integração o trabalho realizado. O prédio da Cooperativa fez parte de gerações e pouco tempo faz, foi destruído por um incêndio, apagando assim da memória viva que saltava aos olhos, a curiosidade sobre os vinhedos, sobre o vinho e a graspa, e sobre as pessoas que ali deixaram seu trabalho e seus sonhos trançados no que ainda poderia ser uma rica produção enológica.


A primeira equipe de administração ficou assim constituída:
Presidente: Ângelo Begnini
Diretor: Benjamin Zanini
Gerente: Ettore Cesari

Conselho Fiscal
Efetivos: Antonio Costella, Guglielmo De Costa, Valentin Santin, Antônio Vivian
Suplentes: Silvio Fiorentin, Luiz Isotton, Luiz Bonafin, José Dal Más.